terça-feira, 7 de junho de 2022

você realmente acredita nisso?

Levei um tempo para - qual seria a palavra aqui? - compreender. Uso compreender porque definitivamente eu não sei qual a melhor definição do que foi esse ano. Em vários momentos eu me senti infeliz, noutros me senti injustiçada, em alguns, livre, em outros senti um estado de completude. Não dá para explicar tudo o que eu vivi, também não dá para mensurar a intensidade de todas as coisas que eu senti. Mas guardei um monte de sentimentos amontoados que, vez ou outra, eu visitava debaixo do tapete. Eu já sabia que não devia ter feito isso, que era sofrimento caçado com as duas mãos, mas ainda assim, eu o fazia. Até mesmo as feridas antigas eu abria, e conferia a cicatriz, ainda dói se eu apertar bem aqui? Se eu me lembrar de fotos tiradas no trilho do trem, ainda vai me gerar aquele incômodo no estômago? E se eu tentar me lembrar do som da risada e não conseguir? Ao mesmo tempo que eu já sabia que invariavelmente o tempo varreria tudo, tiraria a poeira e deixaria a verdade ali, escancarada. É triste, bem triste ver o fim, mas nem de longe é tão triste quanto se agarrar ao passado pelo medo do futuro. E olha só que coisa, eu já sabia também que estava segurando as minhas inseguranças apenas pelas pontas dos dedos, e que estava frágil demais para seguir mantendo esse fardo. E não digo que, mesmo com tudo já sabido, deixou de doer. Ah não, não mesmo. Mas eu fui capaz, de ouvir que é melhor assim, de aceitar, de perdoar, de deixar ao acaso, de compreender. Não diminuindo minha dor, mas compreendendo cada dia mais que as coisas são apenas como são e não como gostaríamos que fossem.