quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

vinho no copo americano

"Hoje é sobre você". Não era.

Nunca foi sobre mim, subindo a rua da igreja, jogando poker, vestindo sua blusa de frio ou assistindo Elizabeth Town. Nunca foi sobre o quanto o meu estômago revira, ainda hoje, quando você diz linda. Nunca foi em qual cenário teria funcionado, ou o que nós poderíamos ter feito diferente. E mesmo quando eu tento deixar tudo na primeira pessoa, dizer o que eu me lembrei, o que eu senti, o que eu pensei, o que eu quis, a conjugação verbal está toda errada, em tempo e em pessoa. Porque eu não vivi sozinha, eu não senti sozinha, eu não te quis sozinha. E as reticências, com essa mania de buscar o ponto final, sem saber que vão deixando um monte de vírgulas no caminho, vão encontrando seu modo próprio de revirar, reviver, revelar. Desculpas, memórias vividas e apagadas abrem um parêntese, que nós não somos nem um pouco capazes de fechar. Porque eu tenho pensamentos recorrentes sobre você, e era exatamente isso que você queria ouvir. E você fez as perguntas corretas para que as respostas fossem reveladas, me despindo de qualquer desculpa ou pudor. Você me colocou exatamente onde você queria, porque você queria, e porque você já sabia todas as coisas que eu não te disse, e não te revelei antes, porque elas estavam esperando você dizer o seu pensamento de uma outra vida: "Essa mulher é minha".