domingo, 12 de dezembro de 2021

fala não.

 Há muito tempo não escrevo. E não é por falta de vontade, é mais por medo. Quando escrevo coloco todos os meus demônios na ponta dos dedos e ultimamente não tenho querido batalhas das quais não tenho certeza se posso vencer. Ontem mesmo eu estava pensando, troquei de perfume, deixei o cabelo crescer, mudei a alimentação, cortei os cochilos da tarde, tenho praticado higiene do sono, respeitei escolhas alheias, cumpri metas e horários, dediquei tempo e atenção a quem me fez o mesmo, dancei, conheci novos lugares e pessoas, me reuni com equipes maravilhosas de estágio, monitoria, faculdade, clínica, fórum, passei a assoprar canela no dia primeiro, cortei o açúcar do café, dei preferência para andar a pé, ouvi músicas novas e algumas velhas que evitava, chorei dirigindo e trabalhando e estudando e fazendo estágio e na supervisão e na monitoria e no caminho e fazendo almoço e limpando a casa e na terapia, assumi erros e escolhas, conheci alguém que sempre esteve comigo - eu. Foi um ano tão difícil, onde eu perdi e ganhei tanto, um ano que demorou passar e de repente é dezembro. Mas foi um ano, só um, que em breve fica para trás e será apenas uma memória, e assim preciso que seja, porque sinto que cresci tanto que não me cabe mais em 2021, preciso de espaço para continuar meu crescimento, e é por isso que não vejo a hora de chegar com o pé direito em 2022, porque eu quero mais, eu preciso de mais e eu mereço mais.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

sala de espera da terapia

Como me dizer constantemente que tudo vai ficar bem quando eu sei que nem tudo vai ficar bem?
É interessante como temos o hábito de nos auto confortar, o que na verdade, é apenas um acalento momentâneo, e preciso, nesses dias nada fáceis. Dizer para si mesmo que as coisas vão se ajeitar, que existe algo de positivo no meio desse caos todo, mesmo sem ter a menor certeza se isso é real. É que sim, as coisas vão se ajeitar, e sim, tem algo de positivo no meio do caos, mas às vezes, o que a gente quer é só viver aquele momento ruim, para depois conseguir sair de lá. A impressão é de panos quentes, compressa de água fria, chá de camomila. Viver o que há de melhor e de pior é tão necessário, entender de onde vem a frustração da expectativa, ou deixar o sentimento doer e saber quem causou aquele calo no pé. A gente tem uma mania de querer reprimir o choro, reprimir a tristeza e os sentimentos vistos como ruins. E tá tudo errado! Só se vai para frente se você compreender onde você pisou antes, onde ficaram pegadas, de onde você veio e quem você era dois passo atrás. Dizer que tudo vai ficar bem é um jeito de botar debaixo do tapete as coisas não tão boas para apenas pensar nas melhores que virão, e elas virão, só que quando sacudir tudo, quando aparecer outro revés, aquela sujeira toda vai virar avalanche, e aí, meu amigo, é quando a gente afunda. Não ter lidado com várias coisas ao longo do tempo faz com que, em uma pequena situação, apareçam gatilhos, sentimentos velhos, mágoas, e fica muito fácil cair nessa espiral. Portanto, tome cuidado com o conforto superficial que você se proporciona, ele pode até parecer gostoso, mas ele não é.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

epicentro

O sol que me rege me pede para que eu seja sempre ponderada, a balança sempre foi uma guia, medidas, libras, equilíbrio. Ao longo de 32 anos eu fui tentando me colocar ao centro de uma balança invisível para as outras pessoas, mas que, para mim, era onde eu pisava o tempo todo. Por medo de conflitos a escolha era me abster, por medo de decisões que pudessem ferir alguém, deixava de tomar por medo de não estar em harmonia. E assim, a mediação nunca foi uma tarefa árdua. Além disso, me adaptar ao meio e às pessoas era o meu cotidiano. Por melhor ou pior, me moldar ao que o destino me trouxesse, era algo corrriqueiro que sempre pensei que fosse natural e mais fácil. Hoje eu percebo que não, o custo de ter vivido uma vida inteira assim me deixou onde estou agora. Cada renúncia foi uma cicatriz, cada vez que deixei o "meu" pelo "seu", eu guardei um pouco de mim, e agora tá me dando um trabalhão encontrar onde ficaram esses pedacinhos meus por toda a minha história. Tenho me buscado constantemente, tenho me encontrado o tempo todo. E a minha companhia (que é a única que tenho tido há algum tempo) é super prazerosa, agora eu me dou bem comigo mesma. E se eu disser que foi um processo natural, ahh, eu estaria mentindo. Porque montar uma balança, subir nela e equilibrar ali durante todos esses anos, isso eu sei fazer. Mas descer de lá, encontrar caminhos e segui-los por mim, isso sim é dureza, parece que estou fazendo tantas coisas pela primeira vez, tomando decisões e construindo o meu caminho de tijolos amarelos. Só que ao invés de correr dos meus medos, eu tenho dado as mãos com eles e seguido, e tem dias que a gente deita sim em posição fetal e chora, mas tem dias que me despeço de alguns deles, e esses dias fazem valer a pena a caminhada. Amanhã eu fecho um ciclo, mas eu abro outro, com alguns medos velhos e outros novos, mas com a certeza de que eu não vou parar.

"Closing time, every new beginning comes from other beginning's end"

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

agora foi.

O tempo tá correndo, e eu tô tão longe de você. Fisicamente, geograficamente. Mas emocionalmente eu estou ao seu lado, estive em Bonito, estive no depósito, estive no seu banco do passageiro. Eu nunca fui embora, e você sabe bem disso. Porque esse mundo é grande demais para eu deixar ao acaso de te encontrar de novo. Hank Moodie me entenderia, dois fodidos. Mas eu não sou mais babaca, e de longe, deu para ver bem o contexto. Existe uma energia que emana da gente que qualquer pessoa consegue sentir, o ar se torna espesso, falta dar choque. E sinto que cada vez que te convido para mais um encontro, dou um pulo, de olhos fechados, para o precipício, e por mais medo que eu sinta, tudo isso me dá mais forças, de ser MESMO quem eu sou, de ir atrás do que eu quero, de te mostrar que não é por você, mas que é com você. Porque agora não parece mais ser difícil encontrar o caminho, não parece que vai dar tanto trabalho assim, sabe. E é cada coisa que eu escrevo só para dizer que te amo, ou me aproprio de frases alheias, no meio da tarde para dizer que sinto saudades. Porque se eu usar palavras puramente minhas, vai parecer mais do mesmo, e eu te garanto, nada aqui é mais o mesmo.

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

me dê a honra?

dois passos. dois para lá, dois para cá. dançamos conforme a música que tem tocado. não sei se está tocando tribo da periferia, ou pearl jam, ou maneva. não consigo falar nós sem que um nó apareça na minha garganta. é que nós nunca deixamos de existir, só que passou a ser laço, voltas, longas. e eu te vejo, das minhas lentes, com clareza, eu sei, eu sinto o gosto. porque a gente se mistura, porque nós não é eu e você, nós é o nosso laço, e então é algo único. dê dois passos para cá, onde estou, porque já dei dois para lá, e assim a nossa valsa segue.

domingo, 22 de agosto de 2021

existe amor em sg

E foi assim, depois de meses eu vi seu rosto iluminar com a minha chegada de surpresa. Senti o ar com os ventos ao contrário, o tipo de coisa que só acontece quando o amor está no ar. Eu disse que não queria ir embora, mas eu fui. Com o coração batendo tão forte que eu ouvia meu ritmo cardíaco, eu quis voltar. Em todos os sentidos, queria voltar no tempo, nos passos, voltar para seus braços, voltar para nós. E isso também ficou no ar. Eu já sabia, você já sabia. Este livro tem mais capítulos a serem escritos.

sexta-feira, 30 de julho de 2021

resistência

O amor não acaba, ele existe em um amontoado de coisas. O amor está num vidro de perfume quebrado, está num chocolate com Nutella. O amor mantém numa carta escrita à mão ou numa imagem compartilhada por tantas pessoas. O amor mora num pote de coxinha, no trilho do trem. O amor mora na pesquisa de um telefone novo, num relógio no braço, no chaveiro da mochila. O amor troca a rota do carro, troca a foto que estava no porta retrato e guarda na gaveta. O amor escolhe outra cor de caneta da agenda, escolhe outro lugar para conhecer, mas ele está lá. Porque amor não acaba, ele muda para outro cômodo, e fica esperando se vai morar lá de vez ou se vai ver a luz do dia, espera pacientemente até que você decida o que vai fazer dele. Porque o amor é mais forte que nós, ele sobrevive onde nós juramos que não havia mais nada para florescer.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

O tempo nos dirá

Um dia alguém me enviou uma imagem com palavras escritas "você é uma frase bonita dessas que a gente sublinha no livro faz tatuagem, conta pra pra todo mundo, dessas que dividem a gente em antes e depois". Hoje, exatamente hoje eu cruzei com essa mesma imagem, sublinhada. E sem pensar, mandei de volta para a mesma pessoa que me enviou há alguns anos atrás. Parece outro mundo, outra vida, e tem tão pouco tempo. Os dias estão passando de uma forma que nunca haviam passado, lentamente, fazendo com que cada sentimento seja vivido, ao mesmo tempo que está indo rápido, desgovernado, e aumentando a distância entre cada marco da vida. Sempre fui uma pessoa que gosta de pessoas, mas nesse momento, nem de mim tenho gostado. É que os gritos presos na garganta estão sufocados, e ninguém mais usa lenço para oferecer quando as lágrimas rolam. A mão treme e fica difícil segurar a colher do doce. O gosto lembra outro doce, o doce momento compartilhado no passado. Ao passo que o futuro se torna palpável, ele se distancia, não é o desejado, mas é o real, e com ele o medo, de não poder somar, de não ser mais, de reconhecer o presente. Eu fui embora, mas eu queria ter ficado, e feito aquela tatuagem, e contado para todo mundo, e lido de novo, sublinhado, escrito na agenda, porque dividida eu já sou, desde o momento que te amei.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

9 - lembrancinha

Acordei com tanta ressaca que demorei conseguir focar a visão para entender onde eu estava. Eu estava em casa, até aí tudo bem, mas estava sentindo cheiro de café recém passado, e isso sim me alarmou. Aí eu ouvi duas vozes femininas. MEU DEUS. Corri pro banheiro para lavar o rosto e passar uma aguinha no cabelo e fui em direção à cozinha.
O bom dia das duas foi uníssono, Virgínia e Luna se olharam e riram juntas. Aquilo estava tão estranho que eu ri de nervoso.
-Bom dia senhoritas. Parece que dormi demais e perdi o nascimento das gêmeas siamesas. Não era hora de brincar mas eu estava muito desconfortável e sempre uso o humor como mecanismo de defesa.
-A Virgínia veio trazer um presente para você e nós duas concordamos que um café cairia bem, apesar de que ficou terrível! Onde foi que você comprou esse pó queimado einh, querido?
Quando ela disse querido, os pelos da nuca arrepiaram, os meus, os dela, os da Virgínia. Essa mulher era impossível, mas achei fofo ela querer demonstrar que andava passando algum tempo por aqui.
-Oi Antônio! Acho que você dormiu tempo demais mesmo, eu e a Luna acabamos descobrindo que fomos da mesma escola na infância, e que por uma ironia do destino, tivemos a mesma melhor amiga, porém em séries diferentes. Dá pra acreditar nessa coincidência?
Alguém pode me dizer quanto tempo essas duas passaram conversando? Eu já não sabia se sentava, se voltava para o quarto, se falava alguma coisa.
-Mesmo ruim, sobrou café para mim? Eu preciso muito de um café agora.
Sentei à mesa com elas, uma de cada lado, as duas de frente uma para a outra. Tinha uma sacola no chão, ao lado da Virgínia, acho que ela seguiu meu olhar e pegou imediatamente.
-Antônio, não é nada demais, é que eu fui em Londres outro dia desses e lembrei do quanto você sempre falou sobre o Big Ben, aí fui conhecer e lá eles vendem umas lembrancinhas diferente! Acredita que te trouxe uma peça original do dia da abertura em 1859, que caiu porque não era necessária e esqueceram de tirar ela do lado do relógio?
Eu tinha sim essa coisa com o Big Ben, sempre achei algo de outro mundo aquele relógio, enfim, eu não saberia agradecer esse presente que ela humildemente chamava de lembrancinha diferente! Isso deve ter custado uma fortuna!
Abri a sacola e era uma engrenagem, grande, de uns 15 centímetros, com ação do tempo estava bem enferrujada, mas era um tesouro, ali, nas minhas mãos.
-Obrigada Virgínia, eu não sei nem como agradecer. Isso me pegou de surpresa, mas eu não aceitaria nada menor de você! Você e sua mania de grandeza.
Eu ia encostar a mão na da Virgínia, mas aquilo pareceu tão injusto que de forma casual e sem perceber, coloquei a outra mão sob a da Luna. E aí as coisas ficaram mais estranhas ainda!
-Bom, café tomado, presente entregue, vejo que por aqui as coisas estão em ordem e fico feliz por isso. Preciso ir, mas também preciso elogiar que esse apartamento nunca esteve tão bem arrumado, e acho que todo o crédito deve ir para você, né Luna?
-Ele é um bagunceiro nato! Mas tem um bom coração. E dito isso, a Luna afagou a minha mão.

Depois que a Virgínia saiu, eu fui direto para o banho, tirar do corpo uma ressaca que não queria sair. Era domingo, então eu não tinha muito o que fazer, nem a Luna, e ela costumava passar o dia todo por aqui, a gente já tinha uma rotina sem nem notar. Há quanto tempo será que a gente estava fazendo essa coisa toda? De passar muito tempo juntos, ela sabendo que comprei um tipo diferente de pó de café, eu colocando a minha mão na dela e ela afagando em retribuição? O banho acabou sendo demorado porque fiquei refletindo sobre tudo o que estava acontecendo e eu sabia que ao sair desse banho eu teria um duro encontro com a realidade. Dito e feito.

-Olha Antônio, a gente precisa conversar. E antes que você venha com qualquer desculpa ou explicação, eu preciso saber uma coisa. Quem eu sou para você?
-Luna, espera sabe, eu tô de ressaca, o café estava mesmo horrível, a Virgínia estava aí e vocês duas estavam, sei lá, conversando. A gente pode conversar depois?
-Não. Eu não posso deixar para depois, porque isso é o que nós dois temos feito, deixado para depois, e depois a Virgínia aparece na porta do seu apartamento com um presente histórico caríssimo, sabe. E você fica todo diferente, e segura a minha mão. E eu só preciso saber agora, quem eu sou para você!
-Você tem sido alguém necessário para mim. De verdade. Mas eu não tenho mais explicações além disso. E nem sei se isso te serve, porque falando agora pareceu egoísta, mas é o sentimento que está em mim nesse momento.
-É, isso não serve, e você dizer isso é sim egoísmo, como sempre. Eu vou para casa.

Eu sequer tentei impedir ela de sair pela porta. Ela estava certa e eu, só para variar, muito errado. Eu sabia que não devia ter dito aquelas coisas, mas também, sabia que aquele não era o momento para ter aquela conversa. Eu estava frágil, e precisava digerir as coisas antes de falar alguma coisa. Mas não tinha o direito de machucar uma pessoa que era tão necessária para mim. Acendi um cigarro na janela e tentei expelir a fumaça e os problemas, tudo ao mesmo tempo. Estava funcionando até que meu celular tocou debaixo do travesseiro. Droga Virgínia.

terça-feira, 22 de junho de 2021

comigo

 Hoje a boca está mais machucada desde que coloquei essa bosta de aparelho. E eu até já sei o motivo. É que quando eu fico nervosa, eu tendo a pregar a língua no céu da boca, e pressionar bastante os lábios nos dentes. E fazer isso de aparelho não é uma boa pedida. É que hoje o dia tá todo atrapalhado, não consegui caminhar cedinho, não consegui fazer algumas outras coisas que precisava, adiei uma ou outra tarefa. Hoje a cabeça tá gritando, o dia todo. Só agora consegui colocar uma música. E depois coloquei mais duas, busquei outra xícara de café. É que eu vi que lançou um chocolate com nutela. Ah, também vi sobre o spinoff que vai lançar de American Horror Story. E que o carinha lá faz a série que eu comecei (e terminei) esse final de semana.

E encarei o editor por vários minutos sem ter certeza do que escrever. E escrevo aqui porque eu não posso escrever em nenhum outro lugar. E eu não posso falar em nenhum outro lugar. E quando eu falo ou escrevo tudo se torna real, e eu fico desconfortável. Tanta coisa mudou, principalmente dentro de mim, envelheci dez anos ou mais nesse último mês.