sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

aos poucos, vida

Desde que ele se despedira de mim as coisas não aconteciam com tanta frequência muito menos com tanta intensidade.
Eu tinha dias tranquilos, pra não dizer tranquilos demais.
Por mim, passaria todos eles lendo, ouvindo a chuva cair e esperando chegar a noite pra dormir.
Mas sempre tinha alguma amiga que queria me tirar disso me carregando pra algum programa que me fazia esquecer tudo aquilo por minutos distantes.
Fosse pra por a 'fofoca' em dia ou pra dar palpite numa roupa que eu sabia que ia ser usada só uma vez. O fato é que eu precisava mais deles do que nunca, meus amigos que eu nem sabia se podia contar.
Eu tinha perdido muito tempo com minhas lamentações e ao mesmo tempo eu sabia que aquele tempo que passei comigo mesma me foi dado para exatamente isso, ficar comigo.
O problema é quando se chega no impasse de que ficar sozinho é bom mas poderia ser melhor.
Eu estava de frente meu espelho, olhando friamente pro que via, que definitivamente não era eu. Eu era tão cheia de vida, comparado ao que eu via. Via sombras, dores, olheiras. Ao mesmo tempo essa visão varria de mim qualquer tipo de expressão, me deixando sempre sem reação quando via que cada dia que passava, menos vida me sobrava.
Ele nem sabia os tormentos que eu passei nesse tempo. Não sabia o quanto eu esperava que eu estivesse num pesadelo que estava um pouco mais demorado que os de costume. Não seria possível que ele soubesse e não estivesse aqui de volta.
Cheguei ao ponto de, numa noite de desespero, ligar para ele. Mãos tremendo e suando, mordendo o lábio inferior e num meio sorriso, esperando que ele me atendesse. E foi exatamente o que ele fez depois de deixar o telefone tocar muito. Seria possível que ele soubesse o poder que aquela voz tinha sobre mim? Sem saber, preferi falar coisas normais, até fingindo que eu mesma fosse normal. Eu o amei naquele momento, como em tantos outros da minha vida, eu o amei. Mas cada vez que eu o amo, eu sinto que ele dá um passo para trás.
Porque ele simplesmente não volta?

*fiction

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Abalo

Pra não dizer que foi a coisa mais difícil que me aconteceu, diria que foi no mínimo diferente.
Eu não tinha a menor intenção de sair, estava de pijama e até sentia dores de cabeça. E pra falar a verdade, eu já tinha até tomado um copo de leite com toddy para ir me deitar.
Mas foi aí que o telefone tocou, não era tão tarde, mas já não eram horas de ser incomodada.
Deixei ele tocar mais duas vezes, pra ter certeza de que o incómodo valeria.
Atendi ainda pensando nas horas, quando vi que a voz do outro lado deu um suspiro de alívio ao ver que era minha voz que disse um alô sonolento.
- Eu preciso te ver. - Depois de um longo silêncio foi tudo o que eu ouvi.
A ligação caiu antes que eu conseguisse assimilar aquilo. Minhas mãos suaram frio, eu fechava meus olhos tentando voltar no tempo, antes do toque do telefone. Não consegui, aquela voz era tão familiar e me fazia tão bem que o máximo que pude fazer foi marejar os olhos enquanto tirava o pijama.
Eu precisava ir ao encontro dele, sem saber ao certo porque, coloquei a primeira roupa que vi, minhas velhas botas e meu casaco preto. Aos poucos eu tentava pensar que ele estava me chamando para dizer que me ama, que já não haviam mais problemas e que agora sim, era nossa hora. Eu só pensava isso para me confortar, ele estaria me ligando por qualquer outra razão.
Atravessei a cidade, passando pelo lugar onde minha mãe sempre disse pra manter distância, naquela hora eu sequer lembrei disso.
Cheguei na porta da casa dele, ensopada pela chuva e pelo suor da corrida. A luz do quarto dele estava acesa, eu podia ver de lá. Abri o portão, que tantas vezes ele abrira pra mim, entrei puxando ar pro coração desacelerar. Passei pela sala, casa vazia. Lá no quarto, jogado na cama, estava ele. As mãos tremiam, e eu ainda não sabia porque. Ainda não sabia também se eu tremia mais que ele.
Sentei no chão, ao lado da cama, segurei sua mão pensando na hipótese de viver ao lado dele.
Foi aí que eu vi, talvez ele tivesse deixado pra eu sentir mais raiva e ir embora, ou mesmo para eu saber o que estava acontecendo. Um prato, uma caneta sem o miolo, e restos de pó. Pra não chorar, olhei pra ele, seus olhos parados, pro teto, gritando lá dentro. Vi que ele começava a ver o que estava acontecendo, sem entender como ele tinha conseguido me ligar, concentrei-me em dizer que estava brava por aquilo, que não queria que isso se repetisse nunca mais. Falava tão devagar, que parecia estar dando instruções de como seria de agora pra frente.
Eu sentei na cama, ele deitou no meu colo. Chorei enquanto ele não via, aos poucos ele dormiu, e eu devo ter dormido também. Voltei pra casa antes que o céu ficasse claro demais para ser reconhecida.

*fiction.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

postagem

"descia de lá como descia do próprio céu, faltava voz mas nada que a dor não substituisse por soluços. Eu quis correr, quis dizer não, quis até fingir não conhecer, mas toda vez que tentava fazer isso, as vistas tremiam e eu sabia que aquela era a coisa errada a ser feita. Longe mesmo de ser uma heroína, longe de ter longos cabelos loiros e uma pele branca e pura, contei que lá estava eu, com os grandes olhos negros, o meu pouco de altura e um esmalte roído. Ele não olharia pra mim assim, não é isso que eles querem. Eu virei as costas e senti que aqueles olhos me fuzilavam, eu não consegui."

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

livre, leve e medrosos

Ignorando o fato de pessoas que me conhecem ler isso, conto que chorei em mais uma comédia romântica, tá, isso já virou rotina, mas é que ontem foi diferente (eu seeempre digo isso). 'Tudo para ficar com ele', passando no Intercine dessa noite, e mostrava nossa luta (leia-se o jogo de homens e mulheres todos os dias). Isso não passa de um jogo, jogo de mentiras, de sedução, de descaso, de paixonite e etc.
Existem até aquelas pessoas que fazem pelo gosto do jogo, saber que sempre vai ser uma luta, uma batalha, que cada dia vai ser com alguém diferente ou mesmo sempre com a mesma pessoa, aquela velha guerra que sempre fica 0 a 0.
Os homens fingem não perceber ou talvez (são realmente muito avoadinhos e) não percebem mesmo. Nós mulheres percebemos, comentamos das táticas alheias e mesmo assim continuamos com isso. E pra quê?! Eu não sei de ninguém que ficou com alguém estilo vida louca e hoje está casado com o mesmo. Quem me disser que não tem planos de casar vai estar mentindo pro seu próprio umbigo, tá, tem alguns loucos, mas no fundo a maioria esmagadora tem essa vontade. E deixam isso de lado, 'tô muito novo!' é a frase mais comum pra desculpar as noitadas em busca de uma nova caça da 'comida' dessa noite.
Chame de instinto enquanto eu chamo de medo. Medo de se envolver e perder o rumo do trabalho, da faculdade, da família. Medo acontecer o mesmo do passado, o mesmo do presente, o mesmo do vizinho, do pai, da tartaruga e do filme da Tela Quente. Medo de que a mania daquele gatinho pegue, que a feiura do colega passe, que o preconceito de fulano te influencie, que você tenha que adotar aquele cachorro enorme e babão que ele faz caminhada todas as tardes...
Eu estou cantando um mantra que diz 'tô bem solteira'. Se eu estou falando a verdade aí são outros 500.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

nem longe

Acredito que não passava das 3 da tarde.
Fazia tanto calor, era verão, e o El niño estava brincando com as previsões do tempo.
O tempo era o de menos, porque passava Vale a Pena Ver Denovo e eu tinha meu inseparável copo de Coca e um pacote de bolachas, como disse, o tempo não me importava.
As coisas nunca foram muito normais comigo, não mesmo, e numa época onde o que importava era os cadernos de perguntas e as intrigas da turminha, eu preocupava-me com minha mente, meus sentimentos, minha saúde mental. E que não espalhem, por favor, essa tal saúde andava de mal a pior. Dediquei-me fielmente em algo que minhas colegas achavam um tédio, sombrio e até meio bobo. Meu primeiro blog.
Perdi as contas de quantas vezes eu entrava escondido na internet, pra falar com algumas pessoas no ICQ e publicar minhas revoltas no blog.
Meu refúgio, minhas revoltas, era meu, só meu, e eu compartilhava com poucas pessoas. Madrugadas perdidas em frente uma tela fria, noites quentes, e manhãs sonolentas. Foi dessa forma que conheci ele.
O que tenho pra falar dele? Quando penso que não tem nada, descubro que poderia ficar horas contando coisas... Ele.
Conhecemos via blog, de revoltas em revoltas, (minhas e dele) fomos nos conhecendo, e dentre mitos e histórias, conheci meu eu, e ele, bom, ele me conheceu. Usava-se aquela merda de conversa em celular de 3segundos! Mas era assim que conversávamos quando não dava pra entrar escondido na internet. Pode parecer coincidência demais, mas a avó dele morava do lado da minha avó que fica apenas do outro lado da minha casa. Ele brincou com meu irmão quando pequeno. Pois é, e cá estávamos nós, nesse mundo injusto, parecia que algo fazia sentido.
Foi assim, dessa forma, que conheci ele, as coisas que vieram depois foram importantes, mas é essa a memória que tento guardar. Hoje as coisas são muito diferentes, essa história toda foi a uns 6anos e até hoje não sei ao certo como aconteceu. Ele não vai ler, e se ler, não vai levar a sério... Eu não me importo mais.
Nostalgicamente escrito ontem a noite.
=|

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Particularidades

Como não dá pra fugir, falemos sobre.
Estou com um amontoado de pequenos aborrecimentos, falta do que fazer, com preguiça até pra mudar o que está me incomodando.
Eu não me recordo de férias tão ruins quanto essas, estão faltando muitas coisas, muitas pessoas que gosto, e tá chato. Eu sou muito família, e quando dá essa época eu fico por conta deles, gosto das cervejadas e as doradas até amanhecer o dia, e não me importo de forma nenhuma em ficar em casa lendo um livro enquanto uma dupla sertaneja reúne os ânimos da cidade.
Essa coisa de morar em cidade pequena... dá nisso! São tantas opções que quase nunca sei o que fazer, posso enfiar-me em livros ou na internet de baixa qualidade.
Não deve ser atoa que tenho paixão por escrever.
Estou precisando de músicas novas porque estou cansada das minhas, preciso sair pra espairecer, respirar e deixar-me um pouco. Esse sentimento de solidão é muito estranho, assalta de uma hora pra outra, e como sou a chorona mais assumida do mundo todo, despenco.
E outro defeito que tenho é que (apesar de já ter mudado bem pouquinho) eu sinto muito, em demasia. E isso me corrói, me faz adoecer.
Atualmente estou lendo um livro, que tem consumido muito tempo e muitas lágrimas (eu avisei que sou chorona!). Começa assim:
"Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita algumas moedas ou elogio em troca de uma história. Nunca esquece a primeira vez em que sente o doce veneno da vaidade no sangue e começa a acreditar que, se conseguir disfarçar sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de garantir um teto sobre sua cabeça, um prato quente no final do dia e aquilo que mais deseja: seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente vai viver mais do que ele. Um escritor está condenado a recordar esse momento porque, a partir daí, ele está perdido e sua alma já tem um preço."
Sem mais.