quarta-feira, 30 de maio de 2012

segredos e mentiras: se vira.

-não foi bem assim, você não vai entender de qualquer forma.
-sabe o que eu entendo? que você dizia me amar! dizia que faria tudo por mim, que matava e morria. disse até que se algum dia acabasse, você se recusaria em seguir em frente, que não queria desapegar nunca do que sentir por mim. e então eu te vejo de mãos dadas, e você cheia de sorrisos e cigarros. e nessas horas eu vejo que passei tanto tempo pra não te conhecer de verdade.
-se você creu nos sorrisos, passou todo esse tempo sem me conhecer mesmo. tudo o que eu fiz foi por amor. e eu te amo até hoje, e mais ainda agora, por ter abrido mão da minha felicidade pela sua. você não vai entender de qualquer forma. e eu também te vi, antes daquilo, e escondi minhas mãos. porque tudo o que eu quero agora é te ver feliz, custe o que custar.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

'o inferno é não poder amar'

Vê se para de chegar no meu escritório com esses olhos marejados. Porque você me compra quando abre a porta. E me doa aos pobres quando vai embora. Entra aqui, diz que precisa de colo e se joga no sofá. Eu já te disse, esse sofá tem que estar em perfeito estado para quando meus clientes chegarem. Você nunca me ouve. Aí vou tentar te tirar de lá, e você pede pra eu mexer no seu cabelo. Você nunca vai crescer. Eu te adulo, te amanso. E aí você se joga em cima de mim. Puxa a gravata e amassa a camisa que demorei horas passando. Não que eu não te queira. Não. Eu quero. Mas pra variar, eu queria que fosse um pouco mais do meu jeito. Eu te levando pra jantar, depois pro meu apartamento, eu deixaria até você escolher a sua bebida vermelha. E lá a gente não ia ter que se importar com o sofá, os clientes, ou seu choro. Eu queria te cuidar, de verdade. Mas o único espaço que você me deixa entrar é o vão no meio das pernas. E eu, como bom e velho homem, entro. E depois, quando vou pra casa, queria poder te ligar. Nem seu telefone eu tenho. Você só passa ele praqueles babacas. Quando me liga, liga de qualquer orelhão na rua, desesperada, me pedindo qualquer coisa.  É que a noite eu fico carente, e você só sabe o que é carência no domingo a tarde, ou na segunda a tarde, ou qualquer dia que pedir atenção pra algum idiota e ele não der. Mal sabe você que não precisa deles, nem de mim. E assim vou deixando. Porque se descobrir o quanto é maravilhosa, meu sofá vai ficar impecável a semana inteira, e eu despedaçado sem você pra curar.

terça-feira, 15 de maio de 2012

simulação de voo

Faz frio e eles estão junto. O domingo amanheceu, mas eles ainda não. Tudo parece meio devagar e sonolento como devia ser. O indicador dele desliza da nuca às covas. Ela desperta. E com um sorriso de menina, sussurra qualquer coisa parecida com bom dia. Com a mesma mão ele a puxa, sente o perfume dos cabelos e a beija ternamente. É tudo mais leve assim, quando eles estão juntos.

De camiseta surrada e bermuda, ele passa a mão nos cabelos, confere no vidro da janela se está tudo dentro dos conformes e vai pra cozinha. É domingo, dia de ficar juntos, vivendo nada além do cotidiano. Ele faz um café e leva uma grande xícara pra cama, onde encontra sua garota se embrulhando de presente para os seus braços. Eles se encaixam, foi moldado pra ser assim. O café acaba e ela faz biquinho. Ele promete trazer mais se ganhar um sorriso. Ela nega. E começa a guerra de cócegas.

O tempo continua nublado e eles fazem algo na cozinha. A claridade da janela deixa o rosto dela perfeito. Vestindo nada além do moletom dele, ela consegue portar uma beleza e sensualidade inocente. Todo atrapalhado com essa visão, ele tenta continuar cozinhando, mexe na colher, experimenta e joga mais sal. As grandes costas dele a impedem de ver o andamento no fogão, então ela aproveita para observar quão encantador ele consegue ser. Sério, lindo, barba serrada e o maior desejo do mundo em apenas uma coisa: ser dela.

Colchão no chão, duas cobertas escuras, dois travesseiros e dois corpos ocupando o mesmo espaço. Os beijos nunca são suficientes, os olhos caçam os olhos, a luxúria ordena. E quando se separam sentem que não existe a necessidade de espaço entre eles. Se abraçam, se aninham. Ele passa os finos dedos entre os longos cabelos dela e se perde nos pensamentos. Alguém naquela sala sabia que tinha sorte.

O sol se põe, o faustão está irritando na tv e eles estão tomando sorvete. Ela coloca um dos pés em cima do outro, mesmo de meia, o frio está grande. Ele repara e ri. Repara nos detalhes, no cabelo atrás da orelha, partida pra esquerda. Ela é doce, meiga e quente. Ele é atencioso e tem cheiro de lar. Difícil imaginar esses dois separados.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

conjugando.

Minhas pernas enroscam nas suas. Que raiva estou sentindo de mim. Eu te pedi pra ficar e agora não sei o que fazer de você. Eu sei que você prefere me ter ali, em frente aos holofotes, dizendo que sou sua e tudo mais. Mas eu prefiro você aqui, embaixo das minhas cobertas. Usando seu braço de travesseiro. Vou sair de mansinho, não quero te acordar. Pelo menos não agora.

Acho que estou me escondendo aqui na cozinha. Estou com receio de ver seu rosto de novo. Eu estou despida de vontades. Só o que me veste são os medos. Não sei onde eu estava com a cabeça em entrar nessa sua loucura, nesses seus beijos sufocantes, nas suas mãos fortes e macias. Agora me lembro. Era por tudo isso. E mais ainda por me ver nos seus olhos. Você queria tudo isso. Assumindo todos os riscos. Você me quis. E eu continuo sem saber o que fazer de você.

Nada na tv, nada na internet. Nenhuma chamada no meu celular. Nem na secretária eletrônica. Já conferi a vista da janela, já procurei algo pra ler. Mas só você está prendendo minha atenção. Droga. Preciso dar um jeito na minha bagunça. Nunca vou te assumir isso, mas estou me escondendo de você por saber o quanto você me vê. O quanto isso é profundo. Me faço de indiferente mas o que você me proporciona é que me mantem de pé. Se consigo me ver dentro dos seus olhos é porque lá me sinto segura, e lá é onde eu quero ficar. Mas não nessa bagunça, nessa loucura. Nesse tipo de jogo só um sai ganhando. E terá que ser você, para não ter que pagar o alto preço de perder tempo comigo.

Oi linda. Eu ouço de você, encostado na porta do quarto, me olhando com um sorriso único. Sorriso de 'obrigado por me deixar ficar aqui essa noite'. Não abusa vai. Eu posso acabar te deixando por aqui mais vezes. Até porque, você combinou com a minha porta, com o meu sofá, com a minha cama. E eu com a sua camisa amarrotada. Talvez a gente devesse fazer isso mais vezes pra ver com mais o que você combina, e enquanto isso vou me acostumando com a ideia de mudar de ideia. Afinal, eu estava pra te mandar embora e agora estou toda derretida.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

do jeito dela.

Ela estava de veludo, jogada no canto do sofá, como se não tivesse me notado. Ela faz isso com frequência, e funciona. Me deixa louco. Eu tento fazer qualquer coisa pra chamar atenção dela, até ligar pra qualquer número feminino na minha agenda. Ela continua lá, com um copo na mão, olhando despretensiosa pra janela.
Eu vago pela sala. Pego um copo. Volto. Ela está brincando com os dedos no copo. E comigo.
Escoro na janela, trocamos algumas palavras. Ela reclama que atrapalhei sua vista. Que cansou de me ver. E eu penso desesperadamente nas suas costas. Desnudas encostadas no sofá.
Monto qualquer cena na minha mente, qualquer suspiro. Me sinto pouco confortável em lembrar das nossas madrugadas, com ela ali, do outro lado da sala. Me ignorando. O doce amargo da sua bebida. O arrepio.
Digo que vou embora e ela levanta. 'fica hoje'. Seria possível te negar? Eu fico essa noite, e se amanhã ainda existir, fico também. Não sei fugir dela. Não sei ser de mais alguém. Mesmo sabendo que ela vai me pedir pra esquecer tudo. O que eu posso fazer? Se já sei que ela é o que quero.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

você, novamente.

Vou te manter aqui. Comigo.
Está decidido. Afinal, eu queria assim, você queria assim. Então por que não posso te imaginar aqui? Eu vou fantasiar tudo, fique tranquilo. Até algumas brigas pra gente não cair na rotina. A gente começa assim: me empresta sua blusa de frio de novo, e me chama pra assistir um filme. Não sei como está o clima por aí, mas nunca vi/imaginei sua cidade fazendo frio. Aqui está, e muito. Você conhece. E acho que a gente pode passar mais uma tarde juntos. Ou talvez uma noite. Ou uma era de ouro inteira. Talvez eu precise mesmo de você por aqui para me ajudar a montar o que fazer, eu já escolhi o filme, como você mesmo disse. E a companhia. Acho que a gente tem alguns anos meio perdidos, algumas memórias secretas e alguns olhares possivelmente correspondidos. Te disse, conquistou o direito de dizer o que pensa pra mim. E de mim. E o de me encantar. Cada dia mais. Eu já sabia, você aí sozinho, tinha um motivo. Você estava me esperando.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

minha pressa.

Eu conto e as pessoas não entendem. É que eu te amo. E ninguém me culpa, mas todo mundo me julga. Eu amo quando você abaixa a cabeça, com raiva das besteiras que eu te falo, ou quando perde a paciência comigo e fica sério. Amo sua aversão à fotos. E amo lembrar que tirei uma sua, e que foi uma das mais lindas. Me apego às lembranças, aos beijos e aos nãos. Tento deixar todas as coisas irem embora, e dizer que não te amo, mas 'você é tudo pra mim' ainda está jogado no chão do meu quarto. E por mais que tenham rasgado minhas memórias palpáveis, que tenham tentado depredar sua imagem pra mim, eu ainda te amo. E eu te amo pra mim e pra você. Se eu ligar você não vai me entender. Muito menos estar a minha disposição. E nós vamos acabar brigando, como sempre. Mas eu ainda vou estar te amando. Quando for sete da manhã e o seu celular estiver supostamente acabando a bateria. Quando eu pegar o telefone e pensar mil vezes em ligo/não ligo. Quando a gente se esbarrar nessa pequena cidade. Quando ainda for muito cedo e eu repetir: sinto sua falta. Porque eu sinto a sua falta.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

20 horas atrás.

"me lembro de você, subindo a rua da igreja". Começou. Não, não começou, acordou. Devo ter escrito numa agenda antiga 'teenage love'. E acredite, é sobre você. Porque eu não sei, mas existe essa coisa, esse incomodo quando estamos lá, no meio de todas as outras pessoas que nos ignoram. Mal sabem elas. Você me encanta, me puxa, e eu deixo. E depois de anos sem te ver, anos sem dizer o quanto eu amo a gaga, a gente tem a mesma química. Não acho que tenha sido as pequenas saias que eu uso. Ou porque jogo o cabelo pro lado esquerdo. Muito menos a poker face no poker. É que existe isso aí entre a gente. E quando você chegar, espero que cedo, eu possa ter meu orlando bloom, dizendo LINDA pessoalmente.