sábado, 15 de agosto de 2009

acontecendo no gerúndio

Quando eu fecho as cortinas fica tudo mais fácil.
Posso tirar esses quilos de maquiagem, o penteado enorme, isso sem falar dessa roupa espalhafatosa. Enfim, eu de cara limpa, de roupão e rabo-de-cavalo. Agora eu posso contar como é estar atrás dessas cortinas.
Grandes sorrisos e bonitas frases, até uma fé desenfreada me aparece por lá. Sou a melhor conselheira, a mão amiga, o alicerce e apoio perfeitos. Peço por favor e agradeço tudo, sou fina, bem vestida e educada. Rezo e peço a Deus paz e sabedoria. Acredito em coisas que até Ele duvidaria. Sou compreensiva, tranquila e forte. Nunca vi falar de alguém tão forte assim.
Mas quando acaba o espetáculo e eu passo por essas cortinas não me sobra muito além do rabo-de-cavalo. Tudo o que eu quero é chorar meus medos, minhas dores. E não sou tão educada assim, perco a paciência mais fácil do que parece. E não consigo crer em mais nada que me obriga a ter fé, foi uma injustiça muito grande e uma decepção tamanha. E quanto as cobranças que me estão sendo feitas, eu não sou forte o bastante pra isso, nunca fui, aliás, eu que sempre fui a senhora fraqueza, que desiste nos 15 minutos do primeiro tempo.
E o que eu queria agora era poder ficar mais tempo do lado de cá da cortina, mas parece que mesmo depois de muito lavar o rosto, aquela maquiagem anda pregando em mim, e tem dias que até me esqueço de tirar aquelas roupas, acabo pegando no sono com elas. Pelo visto estão construindo uma parede atrás da cortina, qualquer dia desses que eu tentar voltar, vou ver que só me restou o lado de lá.

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