terça-feira, 11 de dezembro de 2012

mais tarde

Sheila, você reclama que não falo. Então, deixa eu falar de uma vez por todas.
Eu quero que você diminua esse cigarro, e pode começar por agora. Já é o terceiro e a gente tá na chuva. E eu molhei meu pé todo pra vir aqui. Hoje não era um dia bom pra conversar, mas não vai ter outro jeito. Você virou minha vida de cabeça pra baixo. E eu preciso falar logo antes que eu exploda. E entre no meu carro e chegue até o alpa em segundos. Você... Tá, não vou engasgar. Você é a culpada de tudo, sabe disso né? Sabe que se não tivesse bebido tanto aquele dia, nada disso tava acontecendo! Eu, na minha humildade jamais teria a coragem que você teve. E que coragem pra uma menina desse tamanho. E aí você fica aí no meu pé. E eu no seu. E a gente vai afundando juntos. Porque você descobriu como se usar, e o poder que pode ter. E logo na vez de quem? Claaaro que era na minha. Fica me contando histórias de terror, ainda não sei se pra parecer vítima pra mim ou pra eu sair correndo. Não está funcionando de nenhuma das duas formas. Você não é vítima de nada, caça com as duas mãos. E eu não vou sair correndo. Estou envolvido. Queria que nossas conversas fossem mais leves. Que eu não precisasse ficar tenso, esperando a próxima bomba. Que eu não tivesse que chegar nos lugares e as pessoas parassem de falar porque entrei. Que não tivesse que enfrentar uma muralha entre você e uma ou outra amizade, ou todas elas. Mas com você nada é fácil. Nada é tranquilo. Nunca é simples. Deviam colocar seu nome num furacão. Seria o melhor nome pra um. Mas olha. Falei demais. Quero você assim sabe, preta. Desse jeito que você tá agora. Bem, responsável. Pensando antes de falar e fazer. E eu prefiro assim. Mas não faz isso por mim. Faz por você. E para de mentir que 'de mim eu cuido', porque você não faz ideia de como se virar. Fica fazendo de forte mas é só uma menininha com medo. Por hoje é isso, amanhã eu já não sei. Mas vai ser assim. Você disse que podia ser do meu jeito.

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