sábado, 21 de fevereiro de 2015

mais nada

fiction
Foi uma noite pesada. Ela sorria pra mim daquela forma triste e eu queria segurá-la. E beijá-la. Ternamente. Tirar todos os seus problemas e afagar seus cabelos para afogar suas mágoas. Eu queria sorrir de volta. Só tomava outro gole pra afastar da minha mente o seu cheiro. Cheiro de roupa limpa e listerine. Ela era esse misto de minha e do mundo. Nada conseguia parar seu trem desgovernado. Ela preenchia a sala. Sozinha fazia minha multidão. E me fuzilava quando abria a boca. Quase sempre bêbada. Quase sempre de outro alguém.
Essa noite foi começando com o telefone tocando. Ela me chamou indiretamente para sairmos. Como sempre ela nunca dava importância para a minha presença. Ou tentava me fazer pensar assim. Desfazia de mim como se eu não tivesse importância. Mas quando ficava zonza, caçava uma forma de me fazer cair nas suas teias. E tanto quanto uma viúva negra, me usava e me matava. Ir embora da minha cama era tão simples pra ela, me fazia crer que esse era o ponto alto dos nossos momentos. Levantar e com todo desdém do mundo me olhar, deixando claro que fui usado novamente.
Não que eu goste dela. Eu gosto do que ela faz em mim. Consegue me deixar calmo e louco ao mesmo tempo. Eu preciso encostar naquela cintura, preciso chegar perto daquele pescoço e dizer coisas sujas. Parece que ela sabe disso. Sabe que ela me tira do rumo. Que eu quero. E muito. Então eu bebo outro copo esperando a minha deixa. Pra oferecer uma carona sem compromisso. E talvez a pernoite do motel.
E assim ela faz. Deixa. Deixa eu me envolver sem me dar uma frase pessoal. Nunca vou conhecê-la. Não vou saber quais são seus hobies(exceto o de me matar lentamente). Vou deixar ela me enlouquecer bastante. E fazer tudo de novo. Porque é isso que eu quero. Ela. E só.

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